Bruxas
Uma bruxa é
geralmente retratada no imaginário popular como uma mulher velha, nariguda e
encarquilhada, exímia e contumaz manipuladora de Magia Negra e dotada de uma gargalhada terrível. A palavra vem
do verbo italiano bruciare que significa queimar (brucia), na época da
Inquisição, estrangeiros fora da itália ao ouvirem gritar brucia associaram a
palavra com a ré. É inegável a
conexão entre esta visão e a visão da Hag
ou Crone dos anglófonos. É também muito
popularizada a imagem da bruxa como a de uma mulher sentada sobre uma vassoura
voadora, ou com a mesma passada por entre as pernas, andando aos saltitos.
Alguns autores utilizam o termo, contudo, para designar as mulheres sábias
detentoras de conhecimentos sobre a natureza e, possivelmente, magia.
Algumas bruxas
históricas adquiriram alguma notoriedade, como é o caso das chamadas Bruxas de Salem, a Bruxa de Evóra e Dame Alice Kytler (bruxa
inglesa). São também bastante populares na literatura de ficção, como nos livros da popular série Harry Potter, nos livros de Marion Zimmer Bradley (autora de As Brumas de Avalon, que
versam sobre uma vasta comunidade de bruxos e bruxas cuja maioria prefere
evitar a magia negra, ou a trilogia sobre as bruxas Mayfair, de Anne Rice.
As bruxas foram
implacavelmente caçadas durante a inquisição na Idade Média. Um dos métodos usados pelos inquisidores para identificar uma bruxa nos julgamentos do Santo Ofício consistia na comparação do peso da ré
com o peso de uma Bíblia gigante. Aquelas que fossem mais
leves eram consideradas bruxas, pois dizia-se que as bruxas adquiriam uma
leveza sobrenatural. Frequentemente as bruxas são associadas a gatos
pretos, que dentre as Bruxas Tradicionais são os chamados Puckerel, muitas
vezes tidos como espíritos guardiões da Arte das Bruxas,
que habitam o corpo de um animal. Estes costumam ser designados na literatura
como Familiares.
Diziam que as
bruxas voavam em vassouras à noite e principalmente em noites de lua cheia, que
faziam feitiços e transformavam as pessoas em animais e que eram más.
Hoje em dia essas
antigas superstições como a da bruxa velha da vassoura na lua cheia já foram
suavizadas, devido à maior tolerância entre religiões, sincretismo religioso e
divulgação do paganismo. Gerald Gardner tem destaque nesse cenário como o pai da
Religião Wicca- A Religião da Moderna Bruxaria Pagã, formada por
pessoas que são Bruxos/as mas que utilizam a "Arte dos Sábios" ou a
"Antiga Religião" mesclada a práticas e conhecimentos de outras
tradições. A classificação de magia como negra e branca não existe para os
bruxos, pois se fundamentam nos conceitos de bem e mal, que não fazem parte de
suas crenças, por isso, como costumam dizer, toda magia é cinza.
A Arte das Bruxas
como era feita antes é chamada de Bruxaria Tradicional, ainda remanescendo até
os dias atuais em grupos seletos, via de regra ocultos. Hoje também pode-se
encontrar uma vasta quantidade de livros e sites que explicam a "Antiga
Religião" mas geralmente se tratam de Wicca, pois os membros de grupos de
Bruxaria Tradicional costumam preferir o ostracismo, revelando-se publicamente
apenas em ocasiões especiais ou para que novos candidatos os localizem.
Historia
À afirmativa de
existência de bruxas à forma retratada em registros da Idade Média, incluindo
histórias infantis que permaneceram em evidência até os dias atuais, admite-se
uma ressalva: elas parecem ter existido apenas no imaginário popular como uma
velha louca por feitiços enigmáticos, surgidas na esteira de uma época dominada
por medos, quando qualquer manifestação diversa ou mesmo a crença na
inexistência de bruxas da forma retratada pelas autoridades clericais era
implacavelmente perseguida pela Igreja.
A feitiçaria já
era citada desde os primeiros séculos de nossa era. Autores como o filósofo
grego Lúcio Apuleio (123-170) fazia alusão a uma criatura que se
apresentava em forma de coruja (Hécate) que na verdade era uma forma descendente de certas
mulheres que voavam de madrugada, ávidas de carne e sangue humanos.
Para os
intelectuais, estes acontecimentos não passavam do imaginário popular, sonhos,
pesadelos e, assim, recusavam-se a admitir a existência de bruxas. Porém, entre
muitos povos não era assim: os éditos dos francos salianos falavam da Estrige como se ela
existisse de fato. Os penitenciais atestavam a crença nessas mulheres
luxuriosas. No início do século XI, Burcardo, o bispo de Worms,
pedia aos padres que fizessem perguntas às penitentes no intuito de descobrir
se eram seguidoras de Satã, (…) se tinham o poder de matar com armas
invisíveis cristãos batizados (…) Se sim, quarenta dias de jejum e sete anos de
penitências.
Até ao século XIII a Igreja não condenava severamente esse tipo de
crendice. Mas nos século XIV e XV, o conceito de práticas mágicas, heresias e bruxarias se
confundiam no julgo popular graças à ignorância. Eram, em geral, mulheres as
acusadas. Hereges, cátaros e templários foram violentamente condenados pela Inquisição, tomando a vez aos judeus e muçulmanos, que eram os
principais alvos da primeira inquisição (século XIII). Curiosamente, foi
exatamente a partir da primeira inquisição que a iconografia cristã passou a
representar o "Arcanjo Decaído" não mais como um arcanjo, mas com a
aparência de deuses pagãos, como Pã e Cernunnos. Tal fato levou, séculos após,
à suposição de que bruxas eram adoradoras do demônio, o que não faz sentido,
uma vez que a figura do demônio faz parte do dogma cristão, não pertencendo às
crenças pagãs e nem existindo personagem de caráter equivalente ao diabo em
qualquer panteão pagão. O uso alternativo do nome Lúcifer para designar o mal
encarnado, na visão cristã, agravou a ignorância a respeito do culta das
bruxas, uma vez que o nome Lúcifer, pela raiz latina, representa portador/fabricante
da luz (Lux Ferre), inescapável semelhança ao mito grego de Prometeu, que
roubou o fogo dos céus para trazê-lo aos homens.
O movimento de
repressão à bruxaria, iniciado na Idade Média, alcançou maior intensidade no
século XV para, na segunda metade do século XVII, ter diminuída sua chama: o
número de processos de feitiçaria no norte da França aumentou de
8, no século XV, para 13 na primeira metade do século XVI, e 23 na segunda
metade, chegando a 16 na primeira metade do século XVII, diminuindo para 3 na
segunda metade daquele século e para um único no seguinte. (Claude Gauvard -
membro do Institut Universitaire de France).
Em 1233
o Papa Gregório IX admitiu a
existência do sabbat e esbat. O Papa João XXII, em 1326, autorizou a perseguição às bruxas sob o
disfarce de heresia. O Concílio de Basileia (1431-1449)
apelava à supressão de todos os males que pareciam arruinar a Igreja.
Uma psicose se
instalou. Comunidades do centro-oeste da França acusavam seus membros de
feitiçarias. Na Aquitânia (1453) uma epidemia provocou muitas mortes que
foram imputadas às mulheres da região, de preferência as muito magras e feias.
Presas, submetidas a interrogatórios e torturadas, algumas acabavam por
confessar seus crimes contra as crianças, e condenadas à fogueira pelo
conselheiro municipal. As que não confessavam eram, muitas vezes, linchadas e
queimadas pela multidão, irritada com a falta de condenação.
Os tratados
demonológicos e os processos de feitiçaria se multiplicaram, por volta de 1430,
marcando uma nova fase da história pré-iluminista, de trágicas dimensões. Em 1484
o Papa Inocêncio VIII promulgou
a bula Summis desiderantes affectibus, confirmando a existência da
bruxaria. Em 1484 a publicação do Malleus maleficarum ("Martelo
das Bruxas") orientou a caça às bruxas com ainda maior violência que obras
anteriores, associando heresia e magia à feitiçaria.
A Inquisição,
instituída para combater a heresia, agravou a turba de seguidores inspirados
por Satã. Havia, ainda, um componente sexista. Os bruxos existiam, mas eram as
mulheres, sobretudo, que eram queimadas nas fogueiras medievais.