Santo Antonio
Santo António ou Antônio
de Lisboa, internacionalmente conhecido como Santo António de Pádua,
OFM (Lisboa, 15 de Agosto
de 1191-1195 ? - Pádua,
13 de Junho
de 1231),
de seu nome de batismo
Fernando Martins de Bulhões, foi um Doutor da
Igreja que viveu na viragem dos séculos XII
e XIII.
Primeiramente
foi frade agostiniano,
tendo ingressado como noviço (1210) no Convento de São Vicente de Fora,
em Lisboa, indo posteriormente para o Convento de Santa Cruz, em
Coimbra,
onde fez seus estudos de Direito. Tornou-se franciscano
em 1220 e viajou muito, vivendo inicialmente em Portugal,
depois na Itália
e na França.
No ano de 1221 passou a fazer parte do Capítulo Geral da Ordem de Assis, a convite do
próprio Francisco, o fundador, que o convidou também a
pregar contra os albigenses em França. Foi transferido depois para Bolonha
e de seguida para Pádua, onde morreu aos 36 (ou 40) anos.
Sua fama
de santidade o levou a ser canonizado pela Igreja Católica pouco depois de falecer,
distinguindo-se como teólogo, místico, asceta e sobretudo como notável orador e grande
taumaturgo.
Santo António de Lisboa é também tido como um dos intelectuais mais notáveis de
Portugal do período pré-universitário. Tinha grande cultura, as referências
ilustrativas que apresentava em seus sermões indicam que ele estava
familiarizado com as obras de Plínio, o Velho,
Cícero,
Sêneca,
Boécio,
Galeno
e Aristóteles,
entre outros autores clássicos, sendo versado em diversos aspectos das ciências
profanas. Seu grande saber o tornou uma das mais respeitadas figuras da Igreja
Católica de seu tempo. Foi o primeiro Doutor da Igreja franciscano, e seu
conselho era buscado pelo próprio São Francisco. São
Boaventura disse que ele possuía a ciência dos anjos.
O contexto histórico
Santo
António de Lisboa, OFM viveu na primeira metade do século XIII,
em plena Idade Média. Desenvolviam-se as cidades
extra-muros (os burgos)
e uma nova classe social de artesãos, mercadores, banqueiros, notários e
médicos ascendia na sociedade e no poder: a burguesia.
Na Europa
formavam-se as nacionalidades sob a égide do Sacro Império
e os exércitos dos anglos,
francos
e germanos,
dominados pelo espírito da cruzada, combatiam os turcos muçulmanos
no Oriente (na Terra Santa) e os berberes
muçulmanos no Ocidente (na Península Ibérica).
Em
Portugal, nesse século, três reis sucederam-se no trono: primeiro Sancho I, filho de D. Afonso
Henriques, empenhado em alargar o território e proceder ao
povoamento do país que surgira sob o governo do seu pai; depois Afonso II neto de D. Afonso
Henriques, que se envolveu em lutas civis contra suas irmãs, o que
motivou a perda dos territórios já conquistados aos mouros a sul do Tejo,
e finalmente Sancho II, filho deste último, grande
conquistador, que se envolveu em questões com a Igreja Católica e com o papado
e foi excomungado
e deposto pelo Papa Inocêncio IV a favor de seu irmão Afonso III, conde de Bolonha.
Primeiros anos
Santo
António nasceu em Lisboa em data incerta, entre 1191 e 1195 (aceita-se
oficialmente a data de 15 de agosto de 1195), filho de Martim de Bulhões e
Maria Teresa Taveira Azevedo, numa casa próxima da Sé de Lisboa,
às portas da cidade, no local, assim se pensa, onde posteriormente se ergueu a
igreja sob sua invocação. Também a forma de seu nome de batismo é obscura, pode
ter sido Fernando Martins ou Fernando de Bulhões.[4][2]
Várias biografias escritas no século XV dizem que o pai era descendente do
celebrado Godofredo de Bulhões, comandante da I Cruzada,
e que a mãe descendia de Froila I, rei de Astúrias,
mas embora fossem nobres e ricos, tal ascendência nunca pôde ser comprovada.
Fez os
primeiros estudos na Igreja de Santa Maria Maior
(hoje Sé de Lisboa), sob a direção dos cônegos da Ordem dos Regrantes de Santo Agostinho.
Como era a prática da ordem, deve ter recebido instrução no currículo das artes
liberais do trivium e do quadrivium,
o que certamente plasmou seu caráter intelectual. Ingressando ainda um
adolescente como noviço da mesma Ordem, no Mosteiro de São Vicente de Fora,
iniciou os estudos para sua formação religiosa. A biblioteca de São Vicente de
Fora era afamada pela sua rica coleção de manuscritos sobre as ciências
naturais, em especial a medicina, o que pode explicar as constantes referências
científicas em seus sermões.
Poucos
anos depois pediu permissão para ser transferido para o Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra,
a fim de evitar distrações profanas, já que era constantemente visitado por
amigos e parentes, e aperfeiçoar sua formação. Coimbra era na época o centro
intelectual de Portugal, e ali ele deve ter se envolvido profundamente no
estudo das Escrituras
e nos textos dos Padres da Igreja. Nesta época entrou em contato
com os primeiros missionários franciscanos,
chegados a Portugal em 1217, e que estavam a caminho do Marrocos
para evangelizar os mouros.
Sua pregação do Evangelho no espírito de simplicidade, idealismo e
fraternidade franciscana, e sua determinação missionária, devem ter tocado o
sentimento de Fernando. Entretanto, uma impressão ainda mais forte ocorreu
quando os corpos desses frades, mortos em sua missão, voltaram a Coimbra, onde
foram honrados como mártires. Autorizado a juntar-se a outros franciscanos que
tinham um eremitério nos Olivais, sob a invocação de Santo Antônio do Deserto, mudou seu nome
para Antônio e iniciou sua própria missão em busca do martírio.
Sua missão
Por essa
altura, decidiu deslocar-se ele também ao Marrocos, mas lá chegando foi
acometido por grave doença, sendo persuadido a retornar. Fê-lo desalentado, já
que não havia proferido um único sermão, não convertera nenhum mouro, nem
alcançara a glória do martírio pela fé. No regresso, uma forte tempestade
arrastou o barco para as costas da Sicília,
onde encontrou antigos companheiros. Ali se quedou até a primavera de 1221,
dirigindo-se com eles então para Assis a fim de participarem do Capítulo
da Ordem - o último que seria feito com a presença do fundador. Em Assis
encontrou-se com Francisco e os seus primeiros seguidores, um evento de grande
importância em sua carreira. Sendo designado para um eremitério em Montepaolo,
na província da Romagna,
ali passou cerca de quinze meses em intensas meditações e árduas disciplinas.
Pouco
depois aconteceu uma ordenação de frades em Forlì,
quando deixou o isolamento e para lá se dirigiu. Até então os franciscanos não
sabiam de sua sólida formação, mas faltando o pregador para a cerimônia, e não
havendo nenhum frade preparado para tal, o provincial solicitou a Antônio que
falasse o que quer que o Espírito
Santo o inspirasse. Protestou, mas obedeceu, e dissertando para os
franciscanos e dominicanos lá reunidos de forma fluente e
admirável, para a surpresa de todos, foi de imediato destinado pelo provincial
à evangelização e difusão da doutrina pela Lombardia.
Entretanto, a prática franciscana desencorajava o estudo erudito, mas em
novembro de 1223 o papa Honório III sancionou a forma final da Regra da
Ordem Franciscana, onde uma formação mais aprimorada se tornou autorizada,
desde que submissa ao trabalho manual, à prece e à vida espiritual. Recebendo a
aprovação para a tarefa pastoral do próprio Francisco, fixou-se então em Bolonha,
onde se dedicou ao ensino da teologia na universidade e à pregação. Deslocando-se em
seguida para a França, ensinou nas universidades de Toulouse e Montpellier, passando também por Limoges.
Em 1226
assistiu ao Capítulo de Arles, e em outubro do mesmo ano, após a morte de
Francisco, seviu como enviado da Ordem ao papa Gregório IX,
para apresentar-lhe a Regra da Ordem. Em 1227 foi indicado provincial da
Romagna e passou os três anos seguintes pregando na região, incluindo Pádua,
para audiências cada vez maiores. Nesse período colocou por escrito diversos
sermões. Em 1230 solicitou ao papa dispensa de suas funções como provincial
para dedicar-se à pregação, reservando algum tempo para a contemplação e prece
no mosteiro que havia fundado em Pádua. Sempre trabalhando pelos necessitados,
envolveu-se também em questões políticas, a exemplo de sua viagem a Verona para
pedir a libertação de prisioneiros guelfos feitos pelo tirano gibelino
Ezzelino, e em 1231
persuadiu a municipalidade de Pádua a elaborar uma lei que impedia a prisão por
dívidas se houvesse a possibilidade de compensação de outras formas.
Pouco
depois da Páscoa
de 1231 sentiu-se mal, declarou-se hidropisia
e ele deixou Pádua para dirigir-se ao eremitério de Camposanpiero, nos
arredores da cidade. Seus companheiros ergueram-lhe uma cabana no alto de uma
árvore, onde permaneceu alguns dias. Percebendo que a morte estava próxima,
pediu para ser levado de volta a Pádua, mas apenas tendo alcançado o convento
das clarissas
de Arcella,
ali faleceu, em 13 de junho de 1231. As clarissas reclamaram seu corpo, mas a
multidão acabou sabendo de seu passamento, tomou-o e o levou para ser sepultado
na Igreja de Nossa Senhora em Pádua. Sua fama de santidade era tamanha que foi canonizado
logo no ano seguinte, em 30 de maio, pelo papa Gregório IX. Os seus restos
mortais repousam desde 1263 na Basílica de Santo Antônio de Pádua,
construída em sua memória logo após sua canonização. Quando sua tumba foi
aberta para iniciar o processo de translado, sua língua foi encontrada
incorrupta, e São Boaventura, presente no ato, disse que o
milagre era prova de que sua pregação era inspirada por Deus. E incorrupta está
até hoje, em exposição na Capela das Relíquias da Basílica. Foi proclamado Doutor da
Igreja pelo papa Pio XII em 16 de janeiro de 1946 e é comemorado no dia 13 de
junho.
Sua pregação, seus escritos e a presença
contemporânea de sua obra
Entre
suas várias qualidades, chamou a atenção de seus contemporâneos seu admirável
dom como pregador. Muitas descrições de época referem o fascínio que sua fala
exercia sobre as multidões de pessoas simples e também sobre clérigos doutos, e
embora o efeito de sua oração a viva voz não possa mais ser recuperado, seu
estilo e os conteúdos que abordava podem ser conhecidos em parte através dos 77
sermões que sobreviveram e constam em sua obra publicada em edição crítica, Sermões
Dominicais e Festivos, e que são considerados autênticos, conforme disse
José Geraldo Freire. São textos eloquentes, persuasivos, cheios de zelo messiânico,
sendo frequentes a defesa do pobre e a reprimenda do rico, e o combate às heresias
de seu tempo, como as dos albigenses e valdenses, com uma eficácia tanta que lhe foi dado o apelido
de malleus hereticorum (o martelo dos heréticos).
Embora a
tradição atribua seu dom à inspiração divina, não é possível deixar de
considerar o importante papel que sua formação erudita desempenhou neste
aspecto de sua vida e obra. A análise das referências que fez em seus escritos,
junto com o levantamento das fontes literárias presentes em seu tempo nas
bibliotecas que frequentou, especialmente a de Santa Cruz, atestam sem sombra
para dúvidas que sua preparação intelectual foi ampla e profunda. Além de um conhecimento detalhado da Bíblia,
dos escritos dos Padres da Igreja e outros escritores cristãos, são encontradas
citações de clássicos como Aristóteles,
Cícero,
Catão,
Sócrates,
Dioscórides,
Donato,
Eliano, Escribônio, Euquério de Lião, Festo Solino, Filão de Alexandria, Tibulo, Sérvio,
Públio Siro,
Juvenal,
Plínio, o Velho, Varrão,
Sêneca,
Flávio Josefo,
Horácio,
Ovídio,
Lucano
e Terêncio.
Seu conhecimento das ciências naturais ultrapassa em muito o currículo regular
das artes
liberais medievais, aprofundando-se em áreas como a medicina,
a física,
a história natural, a cosmografia,
mineralogia,
zoologia,
botânica,
astronomia
e óptica. Nas palavras de José Antunes,
"Santo
Antônio de Lisboa, embora muito festejado e venerado como santo pelo povo, é
menos conhecido como um homem de cultura literária invulgar e como um
verdadeiro intelectual da Idade Média. Reveladora dessa cultura ímpar, é a sua
obra escrita, cheia de beleza e densidade de pensamento, como nos testemunham
os seus Sermões, autênticos tesouros da Literatura e da História. Vasta,
profunda, extraordinária, a respeito da Sagrada Escritura. Ampla, variada e bem
apropriada nas transcrições dos Padres da Igreja e dos Autores Clássicos.
Impressionante, para o tempo, não apenas pelo conhecimento que revela das
ciências naturais e das humanidades, mas igualmente pelo erudito discurso sobre
noções jurídicas, como Poder, Direito e Justiça".
Naturalmente,
era fiel à ortodoxia cristã. Apesar de sua extensa cultura profana, considerava
a Escritura sagrada a fonte da ciência superior, da verdadeira ciência, da qual
todas as outras eram meras servas e simples coadjutoras no trabalho da Salvação.
Por isso deu grande importância à uma boa exegese
do texto sagrado, privilegiando a extração do seu sentido moral. Nota-se ainda em
sua obra alguns dos primeiros sinais de um progressivo abandono do pensamento
medieval, que apresentava o homem e o mundo como desprezíveis e fontes do
pecado, abrindo-se a uma apreciação mais positiva da vida concreta e do
relacionamento humano, entendendo o ser humano como uma maravilhosa obra
divina. Na análise de Pedro Calafate,
"Santo
António não olvidará a excelência da contemplação, mas sublinhará não obstante
a circunstância terrena do homem como corpo e alma, sem deixar de considerar
que a abertura à exterioridade não transforma o amor aos outros e às criaturas
no apego à posse das coisas, estando neste caso o culto da pobreza,
nomeadamente as críticas severas que dirigiu aos prelados e dignatários
eclesiásticos, por se comprazerem nos luxos do século. Tratando-se de uma
espiritualidade que não olvidou a dimensão prática e vivencial, equacionou
também a relação entre a ação e a contemplação no quadro da mística. Filha da
vontade e do amor, numa alienatio mentis que supera o plano estritamente
racional para que a alma, inteiramente conduzida pela graça, contemple Deus
como em espelho ou em enigma, a mística tampouco representará uma renúncia à
vida ativa, nem às exigências da vertente racional do homem, porque a alma
volta e regressa à vida ativa para a realizar com maior perfeição, numa
confluência entre o entender e o contemplar, o saber e a sabedoria".
Contudo,
é de dizer que na forma como chegaram, os ditos sermões são antes um manual
didático para os noviços do que transcrições de sermões verdadeiramente
proferidos. Foram produzidos para seus alunos, para instruí-los na arte
predicatória, a fim de que depois eles pudessem converter com sucesso os
pecadores e infiéis à fé cristã. Apesar disso, eles possuem em seu conjunto
pouca ordem sistemática.
Os
sermões são ainda um precioso documento de época, muitas vezes fazendo alusões
às transformações sociais e econômicas que ocorriam durante aquele período,
atestando o crescimento das cidades, o florescimento das atividades artesanais
e do comércio, o surgimento das corporações de ofícios, as diferenças de
classes. Além dos conteúdos sacros, que ainda preservam seu caráter inspirador,
tais alusões - onde surge aguda crítica social na condenação da avareza, da
usura, da inveja, do egoísmo, da falta de ética na administração pública, dos
falsos moralistas e hipócritas, dos maus pastores de almas, do orgulho dos eruditos,
dos ricos ensimesmados em sua opulência que oprimem e excluem os pobres do
tecido social - são responsáveis pelo valor perene e atual de seus escritos,
sendo passíveis de imediata identificação com muitas circunstâncias e
contradições da vida contemporânea.
Tradição taumatúrgica, iconografia e
veneração.
Diz a
tradição que em sua curta vida operou muitos milagres,
como seguem alguns exemplos. Certa feita, meditando à beira-mar sobre a
frequente aparição da imagem do peixe nas Escrituras, os peixes teriam se
reunido a seus pés para escutá-lo. Teria restaurado um campo de trigo maduro
para colheita que fora estropiado por uma multidão que o seguia; teria
protegido milagrosamente seus ouvintes da chuva que caía durante um sermão, e
uma mulher impedida pelo marido de ir ouvi-lo pôde escutar suas palavras a
quilômetros de distância. Outros milagres populares são: quando em disputa com
um herege
albigense sobre a presença ou não do Deus
vivo na hóstia
consagrada, o herege, chamado Bonvillo, disse que se uma mula, tendo passado
três dias sem comer, honrasse uma hóstia em detrimento de uma ração de aveia,
ele acreditaria no santo. Segundo a história, assim que a mula foi liberta de
seu cercado, faminta, desviou-se da ração e ajoelhou-se diante da hóstia que
Antônio lhe mostrava. Restaurou o pé amputado de um jovem; soprou na boca de um
noviço para expulsar as tentações que sofria, confirmando-o em sua vocação;
quando hereges colocaram veneno em sua comida para verificar sua santidade, o
santo fez o sinal da cruz sobre o alimento, comeu-o e nada
sofreu, para o vexame dos seus tentadores. Outro milagre famoso trata-se da
aparição do Menino Jesus ao santo durante uma de suas
orações, uma cena multiplicada abundantemente em sua iconografia. Também é bastante conhecido um milagre ocorrido durante sua pregação num consistório
diante do papa, inúmeros cardeais e clérigos, e gentes de várias nações,
quando, discorrendo com sutilíssimo discernimento sobre intrincadas questões
teológicas, todos ouviram sua pregação na sua própria língua materna. Na ocasião, diante de tão assombroso fenômeno, que parecia uma reedição do Pentecostes
bíblico, o papa o teria chamado de "a arca do Testamento, o arsenal da
Sagrada Escritura".
A sua
representação iconográfica de longe mais frequente é a de um jovem tonsurado
envergando o hábito dos frades franciscanos, segurando o Menino Jesus sobre um
livro ou entre os braços, a quem contempla com expressão terna, e tendo uma
cruz, ou um ramo de açucenas, na outra mão. Esses atributos podem ser
substituídos por um saco de pão, que distribui entre pobres ou idosos.
É
considerado padroeiro dos amputados, dos animais, dos estéreis, dos barqueiros,
dos velhos, das grávidas, dos pescadores, agricultores, viajantes e
marinheiros; dos cavalos e burros; dos pobres e dos oprimidos; é padroeiro de
Portugal, e é invocado para achar-se coisas perdidas, para conceber-se filhos,
para evitar naufrágios, para conseguir casamento. A devoção popular o colocou
entre os santos mais amados do Cristianismo, cercou-o de riquíssimo folclore
e lhe atribui até os dias de hoje inúmeros milagres e graças. Igrejas a ele
consagradas se multiplicam pelo mundo, tem vasta iconografia erudita e popular,
a bibliografia devocional que ele inspira é volumosa, e em sua homenagem uma
quantidade incontável de pessoas recebeu o nome Antônio, além de inúmeras
cidades, bairros e outros logradouros públicos, empresas e mesmo produtos
comerciais em todo o mundo também terem seu nome.
É um dos
santos honrados nas popularíssimas Festas
Juninas e diversos costumes folclóricos estão ligados ao santo. a
título de exemplo, no Brasil moças casadoiras retiram o Menino Jesus das
estátuas e só o devolvem quando arrumam casamento; uma prece especial, os
"responsos", são feitas para que ele ajude a encontrar objetos
perdidos; no dia de sua festa muitas igrejas distribuem um pão especialmente
abençoado, os "pãezinhos de Santo Antônio", que deve ser guardado em
uma lata de mantimentos para que não falte alimento na casa.
Ele teve inclusive uma brilhante carreira
militar póstuma. Inúmeras cidades da Espanha, Portugal e Brasil lhe conferiram
títulos militares, condecorações, insígnias e outras honrarias, iniciando-se o
curioso hábito quando o regente Dom Pedro ordenou em 1668 que ele fosse
recrutado e assentasse praça como soldado raso no II Regimento de Infantaria em
Lagos,
sendo promovido sucessivamente a capitão e coronel. Com o posto de
tenente-coronel, sua imagem foi levada pelo XIX Regimento de Infantaria em Cascais
à frente dos combates da Guerra
Peninsular, recebendo depois uma condecoração. Dom João VI,
apos o feliz desembarque no Brasil em sua fuga da invasão napoleônica, o nomeou
sargento-mor, promovendo-o depois a tenente-coronel. No Brasil foi onde recebeu
mais títulos, recebendo inclusive soldo em vários locais até depois de
proclamada a República. Em Igarassu foi nomeado oficialmente Protetor da Câmara de
Vereadores.
Festividades em Portugal
Em Portugal, Santo António é
muito venerado na cidade de
Lisboa e o seu dia, 13 de Junho, é feriado municipal.
As festas
em honra de Santo António começam logo na noite do dia 12. Todos os anos a
cidade organiza as marchas populares, grande desfile alegórico que desce
a Avenida da Liberdade (principal artéria da
cidade), no qual competem os diferentes bairros.
Um grande
fogo de artifício costuma encerrar o desfile.
Os rapazes compram um manjerico (planta aromática) num pequeno vaso, para
oferecer às namoradas, as quais trazem bandeirinhas com uma quadra popular, por
vezes brejeira ou jocosa. A festa dura toda a noite e, um pouco por toda a
cidade, há arraiais populares, locais de animação engalanados onde se comem sardinhas
assadas na brasa, febras de porco (fêveras), caldo verde
(uma sopa feita com couve galega, cortada aos fiapos, o que lhe confere uma cor
esverdeada) e se bebe vinho tinto. Ouve-se música e dança-se até de
madrugada, sobretudo no antigo e muito típico Bairro de Alfama.
Santo
António é o santo
casamenteiro, por isso a Câmara Municipal de Lisboa
costuma organizar, na Sé Patriarcal de Lisboa, o casamento de
jovens noivos de origem modesta, todos os anos no dia 13 de Junho. São
conhecidos por 'noivos de Santo António', recebem ofertas do município
e também de diversas empresas, como forma de auxiliar a nova família.
Brasil
No Brasil, onde o
santo tem muitos devotos, é também frequentemente reverenciado como Santo
Antônio, o Casamenteiro. O arraial de Santo Antônio do Leite, no Estado de Minas Gerais,
Brasil, tem em sua igreja uma imagem de Santo António de Lisboa, trazida de
Portugal em finais do século XVII.
Em Barbalha,
no interior do Ceará,
o mês de junho é dedicado ao santo, que é padroeiro da cidade. Destaca-se o Pau
da Bandeira, cerimônia onde os devotos cortam uma árvore de grande porte e
a utilizam como mastro com uma bandeira de Santo Antônio. A festividade reúne
milhares de pessoas.
No
sincretismo religioso, Santo Antônio é conhecido no Candomblé
da Bahia
como Ogum,
o orixá
da guerra.
O Santo é
também padroeiro da cidade de Campo Grande,
Mato Grosso do Sul, e de Patos de
Minas, Rio Acima, Juiz de Fora
e Governador Valadares no estado de Minas Gerais,
onde seu dia é feriado municipal.
Em Campo
Grande, Mato Grosso do Sul, com uma vasta programação, a festa para o Santo
padroeiro é celebrada com missa diária, pastelada, barracas com comidas
típicas, quadrilha, noites temáticas, e shows. A festa é tradicional e tem como
principal atrativo o bolo de metro com várias alianças, que é repartido e
distribuído sempre no dia 13. O pedaço do bolo é bem requisitado pelas mulheres
solteiras que sonham com um casamento próximo. Diz à tradição que aquela que
achar uma aliança no pedaço de bolo é a grande sortuda a subir ao altar com um
noivo.
A cidade
de Três Lagoas,
Mato Grosso do Sul, também tem como padroeiro o Santo, onde a Paróquia de Santo
Antônio realiza todos os anos a trezena e no dia 13 a missa e bênção do pão.
Em Borba, no interior do Amazonas,
a Festa de Santo António é comemorada no período de 1 a 13 de junho e, em 2009,
comemoraram-se 253 anos de amor e fé. Romeiros de vários estados e até do
exterior marcam presença nos festejos todos os anos para pedirem ou agradecerem
pelas graças recebidas. O município possui a Basílica de
Santo António de Borba, que é a 1ª da América Latina e a 5ª do Mundo
a possuir relíquias de Santo António.
Em Salvador, Bahia, o santo é
reverenciado em quase todas as paróquias com a celebração da trezena,
mas há duas igrejas com seu nome em que as festividades são mais intensas,
quais sejam, Santo Antonio Além do
Carmo, no centro histórico de Salvador e em Santo
Antonio da Barra. Em Paratinga, Bahia, conhecida também como Terra de
Santo Antonio, no mês de junho se realizam as Trezenas de Santo Antonio e em
sua tradição, são treze noites de festa. Sendo que em cada noite que antecede
ao dia 13 de junho, são realizadas as noites de acordo a uma parcela da
população, como a noite das crianças, dos rapazes, da moças, dos casados, dos
artistas, dos pescadores, agricultores, carroceiros e motoristas, etc.
No Piauí,
a maior festa religiosa da região, reverenciada ao Santo, acontece em Campo Maior.
Na Paraíba,
no municipio de Fagundes, há mais de um século a conhecida
Pedra de Santo Antônio é visitada por turistas e romeiros de todo o Brasil, no
dia 13 de Junho, que é feriado no município.
Em Santa
Catarina, no município de Sombrio,
são celebradas as Trezenas durante treze dias antes do sábado que antecede a
festa, com benção dos pães de Santo Antonio e feriado municipal no dia 13 de
Junho. A cidade é uma das poucas no Brasil a possuir uma relíquia do santo,
trazida de Pádua
(Itália)
por uma comitiva que incluiu festeiros de 2011, o prefeito municipal e o
pároco.
Em São Paulo,
há muitas igrejas em homenagem ao santo, e ao menos duas catedrais, em Osasco, que
guarda uma relíquia do santo, e Lins, no interior do estado.
Igreja e Museu Antoniano em Lisboa
Situados
perto da Sé Patriarcal de Lisboa, o Museu e a Igreja Antoniana em Lisboa
são o centro da devoção ao santo lisboeta, em especial no dia que lhe é
dedicado, 13 de Junho.
O Museu
Antoniano é um museu monográfico dedicado à vida e veneração do santo,
exibindo, em exposição permanente, objectos litúrgicos, gravuras, pinturas,
cerâmicas e objectos de devoção que evocam a vida e o culto ao santo.
O Museu
fica anexo à Igreja, local onde, de acordo com a tradição, nasceu o santo. Em
conjunto, esses dois espaços constituem um dos mais importantes locais de
homenagem ao mesmo.
No ano de
1995 comemorou-se o 800.º
aniversário do seu nascimento, com grandes celebrações por toda a cidade de
Lisboa.