O Hinduísmo
O hinduísmo é uma tradição religiosa que se originou no subcontinente indiano. Frequentemente é chamado de Sanātana Dharma (सनातन धर्म) por seus praticantes, frase em sânscrito que significa "a eterna (perpétua) dharma (lei)"
Num sentido mais abrangente, o hinduísmo engloba o bramanismo,
a crença na "Alma Universal", Brâman;
num sentido mais específico, o termo se refere ao mundo cultural e religioso,
ordenado
por castas,
da Índia
pós-budista.
Entre as suas raízes está a religião védica da Idade do Ferro na Índia e, como tal, o
hinduísmo é citado frequentemente como a "religião mais antiga",
a "mais antiga tradição viva" ou a "mais antiga das principais
tradições existentes". É formado por diferentes tradições e composto por
diversos tipos, e não possui um fundador. Estes tipos, sub-tradições e denominações, quando
somadas, fazem do hinduísmo a terceira maior religião, depois do cristianismo
e do islamismo,
com aproximadamente um bilhão de fiéis, dos quais cerca de 905 milhões vivem na
Índia
e no Nepal.
Outros países com populações significativas de hinduístas são Bangladesh,
Sri Lanka,
Paquistão,
Malásia,
Singapura,
ilhas Maurício, Fiji, Suriname,
Guiana,
Trinidad e Tobago, Reino Unido,
Canadá
e Estados
Unidos.
O vasto corpo de escrituras do
hinduísmo se divide em shruti ("revelado") e smriti
("lembrado"). Estas escrituras discutem a teologia, filosofia e a mitologia
hinduísta, e fornecem informações sobre a prática do dharma
(vida religiosa). Entre estes textos os Vedas e os Upanixades
possuem a primazia na autoridade, importância e antiguidade. Outras escrituras
importantes são os Tantras, os Ágamas, sectários, e os Puranas (AFI: [Purāṇas]), além
dos épicos Maabárata
(AFI: [Mahābhārata]) e
Ramáiana
(AFI: [Rāmāyaṇa]). O Bagavadguitá
(AFI: [Bhagavad
Gītā]), um tratado do Maabárata, narrado pelo deus Críxena
(Krishna), costuma ser definido como um sumário dos ensinamentos
espirituais dos Vedas.
Os hindus acreditam num espírito supremo cósmico, que é adorado de
muitas formas, representado por divindades individuais. O hinduísmo é centrado
sobre uma variedade de práticas que são vistos como meios de ajudar o indivíduo
a experimentar a divindade que está em todas as partes, e realizar a verdadeira
natureza de seu Ser.
A teologia hinduísta se fundamenta no culto aos avatares
(manifestações corporais) da divindade suprema, Brâman.
Particular destaque é dado à Trimurti - uma trindade constituída por Brama (Brahma), Xiva (Shiva) e Vixnu (Vishnu).
Tradicionalmente o culto direto aos membros da Trimurti é relativamente
raro - em vez disso, costumam-se cultuar avatares mais específicos e mais
próximos da realidade cultural e psicológica dos praticantes, como por exemplo Críxena
(Krishna), avatar de Vixnu e personagem central do Bagavadguitá.
Os hindus cultuam cerca de 330 mil divindades
diferentes.
Etimologia
Hindū é o nome em persa
do rio Indo,
encontrado pela primeira vez na palavra Hindu (həndu) do persa antigo, correspondente ao sânscrito
védico
Sindhu. O Rigveda
chama a terra dos indo-arianos como Sapta Sindhu (a terra
dos sete rios no noroeste da Ásia
Meridional, um deles o Indo), que corresponde ao Hapta Həndu
no Avesta
(Vendidad or Videvdad, 1.18), escritura sagrada do zoroastrianismo.
O termo foi utilizado para designar aqueles que viviam no subcontinente indiano, ou para além do
"Sindhu".
O termo persa (persa médio Hindūk, persa moderno Hindū)
entrou na Índia pelo Sultanato de Délhi e
aparece nos textos do sul da Índia, bem como da Caxemira,
a partir de 1323 d.C, e a partir daí é cada vez mais utilizado, especialmente
durante o Raj britânico. Desde o fim do século XVIII
a palavra passou a ser usada no Ocidente como um termo que abrange a maioria das tradições religiosas,
espirituais
e culturais
do subcontinente, com a exceção do sikhismo,
budismo
e jainismo,
religiões distintas.
Divisões
O hinduísmo pode ser subdividido em diversas
correntes principais. Dos seis darshanas ou divisões
históricas originais, apenas duas escolas,
a vedanta
e a ioga,
sobrevivem. As principais divisões do hinduísmo hoje em dia são o vixnuísmo,
o xivaísmo,
o smartismo e shaktismo.
A imensa maioria dos hindus atuais podem ser categorizados sob um destes quatro
grupos, embora ainda existam outros, cujas denominações e filiações variam
imensamente.
Alguns estudiosos dividem as correntes do hinduísmo
moderno em seus "tipos":Hinduísmo popular, baseado
nas tradições locais e nos cultos das divindades tutelares,
praticado em nível mais localizado;
- Hinduísmo
dármico
ou "moral diária", baseado na noção de carma,
na astrologia,
nas normas de sociedade como o sistema de castas, os costumes de casamentos.
- Hinduísmo
vedanta,
especialmente o Advaita (smartismo), baseado
nos Upanixades
e nos Puranas;
- Bhakti, ou
"devocionalismo", especialmente o vixnuísmo;
- Hinduísmo bramânico védico,
tal como é praticado pelos brâmanes
tradicionalistas, especialmente os shrautins;
- Hinduísmo
iogue,
baseado especialmente nos Yoga
Sutras de Patandjáli.
Com os principais templos Hoysaleswara e Khajuraho.
Definições
O hinduísmo não tem um "sistema unificado de
crenças, codificado numa declaração de fé ou um credo", mas sim é um
termo abrangente, que engloba a pluralidade de fenômenos religiosos que se
originaram e são baseados nas tradições vêdicas. Hindu
é originalmente um termo persa,
em uso desde os tempos do Sultanato Délhi, e que se
referia a qualquer tradição nativa da Índia,
em contraste com o islã. Hindu é usado no inglês
no sentido de "pagão indiano" desde o século XVII,
porém a noção do hinduísmo como uma tradição religiosa identificável,
qualificando uma das religiões do mundo, surgiu
apenas durante o século XIX.
A característica da tolerância compreensiva às
diferenças de credo e a abertura dogmática do hinduísmo o torna difícil de ser
definido como uma religião de acordo com o conceito ocidental tradicional.
Embora o hinduísmo seja um conceito prático claro para a maior parte de seus
seguidores, muitos manifestam algum tipo de problema ao tentar chegar a uma
definição do termo, principalmente devido à ampla gama de tradições e ideias
incorporadas ou cobertas por ele. Embora seja descrito como uma religião, o
hinduísmo costuma ser definido com mais frequência como uma 'tradição
religiosa'. É descrito como a mais antiga das religiões mundiais, e mais
diversa em tradições religiosas. A maior parte das tradições hindus
reverenciam um corpo de literatura sagrada ou religiosa, os Vedas, embora existem
exceções; algumas tradições religiosas acreditam que certos rituais específicos
sejam essenciais para a salvação, mas diversos pontos de vista sobre o assunto
podem coexistir. Algumas filosofias hindus postulam
uma ontologia
teística
da criação, sustento e destruição do universo,
enquanto outros hindus são ateus. O hinduísmo por
vezes é caracterizado pela crença na reencarnação
(samsara),
determinada pela lei do karma (karma), e que a salvação é a liberdade deste
ciclo de sucessivos nascimentos e mortes; outras religiões da região, no
entanto, como o budismo
e o jainismo,
também acreditam nisto, mesmo estando fora do escopo do hinduísmo. O hinduísmo
é visto como a mais complexa de todas as religiões históricas vivas do mundo,
porém a despeito desta complexidade é não apenas numericamente a maior delas,
como também a mais antiga tradição em existência na Terra, com raízes que se
estendem até a pré-história.
Uma
definição do hinduísmo dada pelo primeiro vice-presidente da Índia,
o reputado teólogo
Sarvepalli Radhakrishnan, diz que ele não
é "apenas uma fé", mas que, por estar ele próprio relacionado à união
da razão
e intuição, não pode ser definido, apenas experimentado. De
maneira similar, alguns acadêmicos sugerem que o hinduísmo pode ser visto como
uma categoria com seus limites pouco definidos, e não uma entidade rígida e
bem-definida. Algumas formas de expressão religiosa são centrais ao hinduísmo,
enquanto outras não são tão centrais, porém ainda enquadram-se dentro da
categoria; com base nisto desenvolveram-se algumas teorias acerca da definição
do hinduísmo, como a 'teoria dos protótipos'.
Os problemas com uma única definição do que
realmente se quer dizer pelo termo 'hinduísmo' frequentemente são atribuídas ao
fato de que o hinduísmo não tem um fundador histórico único ou comum. O
hinduísmo ou, como alguns dizem, 'hinduísmos', não tem um sistema único de
salvação, e apresenta diferentes metas de acordo com a seita ou denominação. As
formas da religião vêdica são vistos
não como uma alternativa ao hinduísmo, mas como a sua forma mais antiga, e
praticamente não há justificativa para as divisões estabelecidas pela maior
parte dos acadêmicos ocidentais entre o vedismo,
o bramanismo
e o próprio hinduísmo.
Uma possível definição de hinduísmo é ainda mais
complicada pelo uso frequente do termo "fé" como sinônimo
para "religião".
Alguns acadêmicos e diversos praticantes se referem ao hinduísmo com uma
definição nativa, como 'Sanātana Dharma', uma frase em sânscrito
que significa "a eterna lei" ou "eterno caminho".
Crenças
O hinduísmo é uma corrente religiosa que evoluiu
organicamente através dum grande território marcado por uma diversidade étnica e cultural
significativa. Esta corrente evoluiu tanto através da inovação interior quanto
pela assimilação de tradições ou cultos externos ao próprio hinduísmo. O
resultado foi uma variedade enorme de tradições religiosas, que vai de cultos
pequenos e pouco sofisticados os principais movimentos da religião, que contam
com milhões de aderentes espalhados por todo o subcontinente indiano e outras
regiões do mundo. A identificação do hinduísmo como uma religião independente,
separada do budismo
e do jainismo,
depende muitas vezes da afirmação dos próprios fiéis de que ela o é.
Temas proeminentes nas (porém não restritos às)
crenças hinduístas incluem o darma (dharma, ética
hindu), samsara
(samsāra, o contínuo ciclo do nascimento, morte e renascimento), carma (karma, ação
e consequente reação), mocsa (moksha, libertação do samsara), e as
diversas iogas
(caminhos ou práticas).
Conceito de Deus
O hinduísmo é um sistema diversificado de
pensamento, com crenças que abrangem o monoteísmo,
politeísmo, panenteísmo,
panteísmo,
monismo
e ateísmo, e o seu conceito
de Deus é complexo, e está vinculado a cada uma das suas tradições e
filosofias. Por vezes é tido como uma religião henoteísta
(isto é, que envolve a devoção a um único deus, embora aceite a existência de
outros), porém o termo é visto, da mesma maneira que os outros, como uma generalização
excessiva.
A maior
parte dos hindus acredita que o espírito
ou a alma
- o "eu" verdadeiro de cada pessoa, chamado de ātman — é eterno. De
acordo com as teologias monistas/panteístas do hinduísmo (tais como a escola Advaita
Vedanta), este Atman não pode ser distinguido, em última
instância, do Brâman,
o espírito supremo; estas escolas são, portanto, chamadas de não-dualistas. A meta da
vida, de acordo com a escola Advaita, é chegar à conclusão que o seu ātman
é idêntico ao Brâman, a alma suprema. Os Upanixades
afirmam que quem que tome consciência do ātman como o âmago de si
próprio estabelece uma identidade com Brâman, atingindo assim o moksha
("liberação" ou "liberdade").
Escolas dualísticas (Ver Dvaita e Bhakti)
compreendem Brâman como um Ser Supremo que possui personalidade, e o/a veneram
como Vishnu,
Brahma,
shiva
ou Shakti,
dependendo da seita. O ātman é dependente de Deus, enquanto o moksha
depende do amor a Deus e da graça de Deus. Quando Deus é visto como um ser
supremo pessoal (em lugar do princípio infinito), Deus é chamado de Ishvara ("O Senhor"), Bhagavan ("O Auspicioso") ou
Parameshwara ("O
Senhor Supremo").As interpretações de Ishvara variam, no entanto,
da não-crença no Ishvara dos seguidores do Mimamsakas, até a sua identificação com
Brâman, pelo Advaita. Na maior parte das tradições do vishnuísmo Deus é Vishnu,
e o texto das escrituras desta denominação identifica este Ser como Krishna,
por vezes chamado de svayam bhagavan.
Também existem escolas, como o Samkhya, que têm tendências ateias.
Devas e avatares
Críxena a oitava encarnação (avatar) de Vishnu, ou svaym bhagavan, com
sua consorte, Rada
- venerada como Radha Krishna em
diversas tradições. Pintura tradicional do século XVII.
As escrituras hindus se referem a entidades
celestiais chamadas devas (ou devī, na sua forma
feminina; devatā é usado como sinônimo de Deva em hindi),
"os brilhantes", que pode ser traduzido como "deuses" ou
"seres celestiais".Os devas são uma parte integrante da
cultura hindu, e foram retratados na sua arte, arquitetura,
e através de ícones,
e histórias mitológicas sobre eles foram relatadas nas
escrituras da religião, particularmente na poesia épica indiana e nos Puranas.
Frequentemente são, no entanto, dissociados de Ishvara, um deus pessoal supremo que
muitos hindus veneram de uma forma particular, como seu iṣṭa devatā, ou
"ideal escolhido". A escolha é uma questão de preferência individual
e tradições regionais e familiares.
Os épicos
hindus e os Puranas relatam diversos episódios da descida de Deus à Terra em
sua forma corpórea para restaurar o dharma da
sociedade e guiar os humanos ao moksha. Tal encarnação é chamada de avatar. Os
avatares mais são os de Vishnu, e incluem Rama (protagonista do Ramáyana) e Krishna
(figura central do épico Mahabárata).
Karma e samsara
Karma (Karma) pode ser traduzido literalmente como
"ação", "obra" ou "feito" e pode ser descrito
como a "lei moral de causa e efeito". De acordo com os Upanixades
um indivíduo, conhecido como o jiva-atma, desenvolve samskaras
(impressões) a partir das ações, sejam elas físicas ou mentais. O linga
sharira, um corpo mais sutil que o físico, porém menos sutil que a alma,
armazena as impressões, e lhes carrega à vida seguinte, estabelecendo uma
trajetória única para o indivíduo. Assim, o conceito de um carma infalível,
neutro e universal, relaciona-se intrinsecamente à reencarnação,
assim como à personalidade, característica e família de cada um. O carma une os
conceitos de livre-arbítrio e destino.
O ciclo de ação, reação, nascimento, morte e renascimento
é um contínuo, chamado de samsara. A noção de reencarnação e carma é uma premissa
forte do pensamento hindu. O Bagavadguitá
afirma que:
“
|
Assim como uma pessoa veste roupas
novas e joga fora as roupas antigas e rasgadas, uma alma encarnada entra em
novos corpos materiais, abandonando os antigos. (B.G. 2:22)
|
”
|
A samsara dá prazeres efêmeros, que levam as
pessoas a desejarem o renascimento para gozar dos prazeres de um corpo
perecível. No entanto, acredita-se que escapar do mundo da samsara
através do moksha assegura felicidade e paz duradouras. Acredita-se que
depois de diversas reencarnações um atman eventualmente procura a união
com o espírito cósmico (Brâman/Paramatman).
A meta final da vida, referida como moksha, nirvana
ou samādhi, é compreendida de diversas
maneiras diferentes: como uma realização da união de alguém com Deus; como a
realização da relação eterna de alguém com Deus; realização da unidade de toda a
existência; abnegação total e conhecimento perfeito do próprio Eu; como o
alcance de uma paz mental perfeita; e como o desprendimento dos desejos
mundanos. Tal realização libera o indivíduo da samsara e termina com o
ciclo de renascimentos.
A conceitualização
do moksha difere entre as várias escolas de pensamento hindu. O Advaita
Vedanta, por exemplo, sustenta que após alcançar o moksha um atman
não mais identifica a si próprio como um indivíduo, mas sim como sendo idêntico
a Brâman em todos os aspectos. Os seguidores das escolas Dvaita
(dualísticas) se identificam como parte de Brâman, e, após atingir o moksha,
esperam passar a eternidade num loka (céu), na companhia de sua forma escolhida de Ishvara.
Assim, diz-se os seguidores do Dvaita desejam "provar o
açúcar", enquanto os seguidores do Advaita querem "se tornar
açúcar".
Objetivos da vida
humana
O pensamento hindu clássico aceita os seguintes
objetivos da vida humana, conhecidos como os puruṣārthas ou "quatro
objetivos da vida": dharma "retidão", "ethikos", artha
"sustento", "riqueza", kāma "prazer
sensual", mokṣa "liberação",
"liberdade" [do samsara]".
Acredita-se
que todos os homens seguem o kama e o artha, mas
brevemente, com maturidade, eles aprendem a controlar estes desejos com o dharma,
ou a harmonia moral presente em toda a natureza. O objetivo maior seria o
infinito, cujo resultado é a absoluta felicidade, moksha, ou liberação
(também conhecida como mukti, samadhi,
nirvana,
etc.) do samsara, o ciclo da vida, morte, e da existência dual.
Ioga
Qualquer que seja a maneira na qual o hindu defina
a meta de sua vida, existem diversos métodos (yôgas) que os sábios
ensinaram para se atingir aquela meta. Textos dedicados ao ioga incluem o Bagavadgitá (Bhagavad
Gita), os Yôga Sutras, o Hatha Yôga Pradipika,
a Gheranda Samhita, entre outros, e, como sua
base filosófico-histórica, os Upanixades. Os caminhos que um indivíduo pode seguir para
atingir a meta espiritual da vida (moksha ou samadhi) incluem:
- Bakti-Yoga (Bhakti
Yoga, o caminho do amor e da devoção)
- Karma-Yoga (Karma
Yoga, o caminho da ação correta)
- Raja-Yoga (Rāja
Yoga, o caminho da meditação)
- Jnana-Yoga (Jñāna
Yoga, o caminho da sabedoria)
Um indivíduo pode preferir um ou alguns iogas sobre
os outros, de acordo com a sua inclinação e entendimento. Algumas escolas
devocionais ensinam que o bhakti é, para a maior parte das pessoas, a
único caminho prático para se alcançar a perfeição espiritual, com base em sua
crença de que o mundo atualmente estaria no Kali Yuga
(uma das quatro épocas que formam o ciclo Yuga). A
prática de um yoga não exclui as outras, e muitos estudiosos acreditam que os
diferentes yogas se misturam naturalmente e auxiliam na prática das outros
yogas. Por exemplo, acredita-se que a prática da Jñana-Yoga inevitavelmente
leve ao amor puro (a meta do bacti-yoga), e vice-versa. Alguém que
pratica a meditação profunda (como no Raja-Yoga) deve incorporar os princípios
centrais do Karma-Yoga, do Jñana-Yoga e do Bakti-Yoga, seja direta ou
indiretamente.
Práticas
As práticas hinduístas geralmente envolvem a
procura da consciência de Deus, e por vezes também a procura de bençãos dos devas. Assim, o hinduísmo
desenvolveu muitas destas práticas como forma de ajudar o indivíduo a pensar na
divindade em meio à vida cotidiana. Os hindus podem praticar a pūjā
(culto ou veneração) tanto em casa como num templo. Em seus próprios lares os
hindus frequentemente costumam criar um altar, com ícones dedicados às suas
formas escolhidas de Deus. Os templos costumam ser dedicados a uma divindade
primária e às divindades subordinadas que lhe são associadas, embora alguns
templos sejam dedicados a mais de uma divindade. A visita a templos não é
obrigatória, e muitos os visitam apenas durante os festivais religiosos. Os
hindus realizam seu culto através dos murtis, ícones; o ícone serve como
uma ligação tangível entre o fiel e Deus. A imagem costuma ser considerada uma
manifestação de Deus, já que Ele é imanente. O Padma Purana
afirma que o mūrti não deve ser visto como apenas pedra ou madeira, mas
sim como uma forma manifesta da Divindade. Algumas seitas hindus, como o Ārya Samāj, não acreditam
em venerar Deus através de ícones.
O hinduísmo possui um sistema desenvolvido de simbolismo
e iconografia
para representar o sagrado na arte, arquitetura, literatura
e em seu culto. Estes símbolos ganham seu significado das escrituras, mitologia
ou tradições culturais. A sílaba Om
(que representa o Parabrahman) e o sinal da suástica (que simboliza auspiciosidade) acabaram passando a
representar o próprio hinduísmo, enquanto outros símbolos, como a tilaka, identificam um seguidor da fé.
O hinduísmo ainda apresenta diversos símbolos que são costumeiramente
associados a divindades específicas, como o lótus,
chakra
e veena.
Os mantras são invocações, louvores e orações que, através de seu
significado, som e estilo de canto, ajudam um devoto a focar a sua mente nos
pensamentos sagrados ou exprimir devoção a Deus ou às divindades. Muitos
devotos realizam abluções matinais às margens de um rio sagrado, enquanto
cantam o Gayatri Mantra ou os mantras Mahamrityunjaya. O
poema épico Maabárata exalta o japa (canto
ritualístico) como o maior dever durante o Kali Yuga
(que os hindus acreditam ser a era presente), e muitos adotam o japa
como sua prática espiritual primordial.
Rituais
A imensa maioria dos hindus praticam rituais
religiosos diariamente, porém a observância destes rituais varia enormemente de
acordo com as regiões, cidades ou aldeias e indivíduos. A maior parte dos
hindus segue estes rituais religiosos em seus lares. Os hindus mais devotos
também executam tarefas diárias, como venerar durante a alvorada, depois de se
banhar (normalmente num santuário familiar, num ritual que também envolve o
acendimento de uma lâmpada e a colocação de oferendas de alimentos diante de
imagens das divindades), recitar os escritos religiosos, cantar hinos devocionais, meditar,
cantar mantras,
entre outros. Um fator de destaque nos rituais religiosos é a divisão entre o
puro e o impuro (ou poluído). Atos religiosos pressupõem algum grau de impureza
ou poluição para o seu praticamente, que devem ser anulados ou neutralizados antes
ou durante o decorrer do ritual. A purificação, feita geralmente com água,
é portanto um aspecto típico da maior parte dos atos religiosos do hinduísmo.
Outras características incluem a crença na eficácia do sacrifício e do conceito
de mérito, ganho através da realização da caridade ou de bons atos, que
acumulam com o tempo e reduzem o sofrimento no próximo mundo. Os ritos védicos
da oblação pelo fogo (yajna) são atualmente apenas práticas
ocasionais, embora sejam altamente reverenciadas na teoria. Nas cerimônias de
casamentos e funerais hindus, no entanto, o yajña e o entoamento de
mantras védicos ainda são a norma. Os rituais, upacharas, mudam com o tempo; por
exemplo, nas últimas centenas de anos alguns rituais, como as danças
sagradas e as oferendas musicais nos tradicionais conjuntos de Upacharas
Sodasa, recomendados pelo Agama Shastra, foram
substituídos por oferendas de arroz e doces.
Ocasiões como nascimentos, casamentos e mortes
envolvem o que são frequentemente conjuntos elaborados de costumes religiosos.
No hinduísmo, os rituais que tratam do ciclo da vida incluem o Annaprashan (a
primeira ingestão de comida sólida por um bebê),
Upanayanam
("cerimônia do fio sagrado" pela qual passam as crianças de castas elevadas em sua
iniciação na educação formal) e Shraadh (ritual de conceder banquetes
em nome dos falecidos). Para a maior parte das pessoas na Índia, o noivado de
um jovem casal e a data e hora exatas do casamento são questões decididas pelos
pais, em consultas com astrólogos. Na morte, a cremação,
que é considerada obrigatória para todos, com a exceção de sanyasis, hijra e crianças
abaixo de cinco anos, costuma ser executada envolvendo-se o corpo em algum
tecido e queimando-o sobre uma pira.
Peregrinação e
festivais
Diwali, o
festival das luzes, é o festival principal do hinduísmo. Aqui são mostradas as
tradicionais Diyas, que
frequentemente são acesas durante o Diwali.
A peregrinação
não é obrigatória no hinduísmo, embora muitos de seus seguidores as realizem.
Os hindus reconhecem diversas cidades sagradas na Índia,
incluindo Allahabad,
Haridwar, Varanasi
e Vrindavan.
Entre as cidades que possuem templos famosos está Puri, que abriga um dos
principais templos vixnuísta de Jagannath e a comemoração de Rath Yatra; Tirumala - Tirupati, lar
do Templo
Tirumala Venkateswara; e Katra, onde se localiza o
templo de Vaishno Devi. Os quatro
locais sagrados de Puri, Rameswaram, Dwarka e Badrinath (ou, alternativamente, as
cidades de Badrinath, Kedarnath, Gangotri e Yamunotri, no Himalaia)
compõem o circuito de peregrinação de Char Dham (quatro moradas). O Kumbh Mela
(o "festival das jarras") é uma das peregrinações hindus mais
sagradas, realizada a cada quatro anos; a localização é alternada entre
Allahabad, Haridwar, Nashik e Ujjain. Outro importante grupo de peregrinações são os Shakti Peethas, onde a Deusa Mãe é
cultuada, da qual as duas principais são Kalighat e Kamakhya.
O hinduísmo apresenta diversos festivais ao longo
do ano. O calendário hindu costuma prescrever estas
datas. Estes festivais tipicamente celebram eventos da mitologia
hindu, e coincidem muitas vezes com as mudanças de estação. Existem festivais que são celebrados
principalmente por seitas específicas ou em certas regiões do Subcontinente Indiano. Alguns dos
festivais mais importantes são o Maha
Shivaratri, Holi,
Ram Navami, Krishna Janmastami, Ganesh
Chaturthi, Dussera e Durga Puja,
além do Diwali.
Escrituras
.
O hinduísmo se baseia no "tesouro acumulado de
leis espirituais descobertas por diferentes pessoas em diferentes tempos."
As escrituras foram transmitidas oralmente, na forma de versos - para auxiliar
na sua memorização, muitos séculos antes de serem escritos. Ao longo dos
séculos diversos sábios refinaram estes ensinamentos e expandiram o cânone. Na
crença hindu pós-védica e moderna a maior parte das escrituras não costuma ser
interpretadas literalmente; dá-se mais importância aos significados éticos e
metafóricos derivados deles. A maior parte dos textos sagrados está em sânscrito,
e os textos se dividem em duas classes: Shruti e Smriti.
Shruti
Shruti (lit: "aquilo que é
ouvido") refere-se primordialmente aos Vedas, que compõem o
mais antigo registro das escrituras hindus. Enquanto muitos hindus veneram os Vedas
como verdades eternas reveladas aos antigos sábios (Ṛṣis), alguns devotos não associam a
criação deles com qualquer divindade ou pessoa, acreditando serem leis do mundo
espiritual, que existiriam mesmo se não tivessem sido reveladas aos sábios. Os
hindus acreditam que, como as verdades espirituais dos Vedas são
eternas, eles estão sendo expressos continuamente, de diferentes maneiras.
Existem quatro Vedas (chamados Ṛg-,
Sāma-, Yajus- e Atharva-). O Rig Veda
é o primeiro e mais importante dos Vedas. Cada Veda se divide em
quatro partes: a primeira, o Veda propriamente dito, é o Saṃhitā, que contém mantras
sagrados. As outras três partes formam um conjunto em três camadas de
comentários, costumeiramente em prosa, tidos como feitos numa data um pouco posterior ao Saṃhitā.
São os Brâmanas
(Brāhmaṇas), Āraṇyakas e os Upanixades.
As primeiras duas partes foram chamadas posteriormente de Karmakāṇḍa
(parte ritualística), enquanto as últimas duas formam a Jñānakāṇḍa
(parte do conhecimento). Embora os Vedas tenham como foco os rituais, os
Upanixades se concentram numa abordagem espiritual e em ensinamentos
filosóficos, discutindo Brâman e a reencarnação.
Smritis
Textos hindus além dos shrutis são chamados
coletivamente de smritis ("memória"). Os mais célebres dentre
os smritis são os poemas épicos, que consistem do Maabárata
(Mahābhārata) e do Ramáiana
(Rāmāyaṇa). O Bagavadguitá (Bhagavad Gītā), parte
integral do Maabárata, e um dos mais populares textos sacros do
hinduísmo, contém ensinamentos filosóficos de Krishna, uma encarnação de Vishnu, narradas ao
príncipe Arjuna
às vésperas de uma grande guerra. O Bhagavad Gītā, narrado por Krishna,
é descrito como a essência dos Vedas. O Gītā, no entanto, por
vezes também chamado de Gitopanishad ("Guitopanixade"),
costuma ser categorizado com maior frequência entre os shrutis, por ter
um conteúdo de natureza upanixádica. Os smritis também incluem os Puranas (Purāṇas),
que ilustram ideias hindus através de narrativas vívidas. Também existem textos
de natureza sectária, como o Devi Mahatmya (Devī
Mahātmya), os Tantras, os Yoga Sutras,
Tirumantiram, Shiva Sutras e Agamas (Āgamas).
Um texto mais controverso, o Manusmriti, é o livro
de leis que
epitomiza os códigos sociais do sistema de castas.
História
A mais antiga evidência de uma religião pré-histórica na Índia
data do fim do Neolítico, no período harapano inicial
(5500-2600 a.C.). As crenças e práticas do período pré-clássico (1500-500 a.C.)
são chamadas coletivamente de "religião histórica védica".
O hinduísmo moderno cresceu a partir dos Vedas, dos quais o mais antigo
é o Rig Veda, que data de 1700-1100 a.C.. Os Vedas centralizam o
culto em divindades como Indra, Varuna e Agni, e no ritual do soma. Sacrifícios
de fogo
eram realizados, chamados de yagna (yajña), e entoavam mantras
védicos, porém não construíam templos nem ícones.[carece de fontes]
As tradições védicas mais antigas mostram fortes semelhanças com o zoroastrianismo
e outras religiões indo-europeias.
Os principais épicos em sânscrito,
o Ramáiana
e o Maabárata,
foram compilados durante um período extenso que abrangeu os últimos séculos
antes de Cristo, e os primeiros da Era Comum, e contêm histórias mitológicas
sobre os governantes e as guerras da antiga Índia,
intercaladas com tratados religiosos e filosóficos. Os Puranas
posteriores recontam histórias sobre os devas e devis, suas
interações com os humanos e suas batalhas contra demônios
(rakshasas).
Origens históricas e
aspectos sociais
Pouco é conhecido sobre a origem do hinduísmo, já
que sua existência antecede os registros históricos. É
dito que o Hinduísmo deriva das crenças dos arianos, que
residiam nos continentes sub-indianos, ('nobres' seguidores dos Vedas), dravidianos,
e harapanos. Alguns dizem que o hinduísmo
nasceu com o budismo e o jainismo, mas Heinrich
Zimmer e outros indólogos afirmam que o jainismo é muito anterior ao
hinduísmo, e que o budismo deriva deste e do Sankhya
que em consequência afetaram o desenvolvimento de sua religião mãe. Diversas
são as ideias sobre as origens dos Vedas e a compreensão se os arianos eram ou
não nativos ou estrangeiros na Índia. A existência do Hinduísmo data de 4000 a
6000 mil anos a.C..
Historicamente, a palavra hindu antecede o
hinduísmo como religião; o termo é de origem persa e primeiramente
referia-se ao povo que residia no outro lado (do ponto de vista persa) do Sindhu ou rio Indo.
Foi utilizado para expressar não somente a etnicidade mas a religião védica
desde o século XV
e XVI,
por personalidades como Guru Nanak (fundador do sikhismo).
Durante o Império Britânico, a utilização do termo
tornou-se comum, e eventualmente, a religião dos hindus védicos foi denominada
"hinduísmo". Na verdade, foi meramente uma nova vestimenta para uma
cultura que vinha prosperando desde a mais remota Antiguidade.
Distribuição
geográfica atual
A Índia, a ilhas
Maurício, e o Nepal assim como a ilha indonésia
de Bali
têm como religião predominante o hinduísmo; importantes minorias hindus existem
em Bangladesh
(11 milhões), Myanmar
(7,1 milhões), Sri Lanka (2.5 milhões), Estados
Unidos (2,5 milhões), Paquistão
(4,3 milhões), África do Sul (1,2 milhões), Reino Unido
(1,5 milhão), Malásia (1,1 milhão), Canadá
(1 milhão), Ilhas Fiji
(500 mil), Trinidad e Tobago (500 mil), Guiana (400
mil), Holanda (400 mil), Cingapura
(300 mil) e Suriname
(200 mil).
Filosofia
hindu: as seis escolas védicas de pensamento
As seis escolas filosóficas ortodoxas hindu (Astika, que aceitam a autoridade dos
Vedas) são Nyaya,
Vaisheshika, Sankhya,
Yoga,
Purva Mimamsa - também
denominadas Mimamsa -, Uttara Mimamsa e Vedanta.
As escolas não-védicas são denominadas Nastika, ou heterodoxas, e referem-se
ao budismo, jainismo e Lokayata. As escolas que continuam a
influenciar o hinduísmo hoje são Purva Mimamsa, Yoga, e Vedanta.
Purva Mimamsa
O principal objetivo do Purva
("cedo") ou da escola Mimamsa era estabelecer a autoridade dos Vedas.
Consequentemente a valiosa contribuição desta escola ao Hinduísmo foi a
formulação das regras da interpretação Védica. Seus aderentes acreditavam que a
revelação deveria ser provada através da razão, e não aceita como um dogma
cego. Este método empírico e eminentemente sensível de aplicação religiosa é a
chave para Sanatana Dharma e foi especialmente desenvolvido por
racionalistas como Sankaracharya e Swami
Vivekananda. Para aprofundar-se mais neste tema veja Purva Mimamsa.
Ioga
O sistema do Yoga (ioga, em português) é geralmente considerado como tendo
surgido a partir da filosofia Sankhya. Entretanto o yoga referido
aqui, é especialmente o Raja Yoga (ou união através da meditação). E é
baseada em um texto (que exerceu grande influência) de Patandjali
intitulado Yoga Sutras, e é essencialmente uma
compilação e sistematização da filosofia do Yoga meditacional. Os Upanixades e
o Bhagavad Gita também são textos indispensáveis ao estudo da ioga.
A filosofia Sámkhya é anterior ao
bramanismo, filosofia que deu origem ao hinduísmo, como coloca o indólogo Heinrich
Zimmer em seu clássico Filosofias da Índia. Patandjali, monge
do sul da Índia, onde até hoje a tradição tamil preserva elementos
das filosofias pré-védicas, tinha formação no sistema Saámkhya-yoga,
indissociável. O Sámkhya foi compilado bem antes de Patandjali (que
viveu no século II a.C., por Kapila, que viveu pouco tempo antes de Buda.
Uma diferença importante entre o Sámkhya e o bramanismo é que o primeiro
é dualista,
e o segundo monista,
mas ambos vêem o espírito, ou Deus, como imanente e transcendente ao mesmo
tempo.
A diferença mais significante do Sámkhya é
que a escola de yoga não somente incorpora o conceito do Ishvara (ou "Deus pessoal")
numa visão do mundo metafísica mas também sustenta Ishvara como um ideal
sobre o qual meditar. A razão é que Ishvara é o único aspecto de purusha (do infinito Terreno Divino)
que não foi mesclado com prakrti (forças criativas
temporárias). Também utiliza as terminologias Brahman/Atman e conceitos
profundos dos Upanixades, adotando uma visão vedântica monista. A realização do
objetivo do ioga é conhecido como moksha ou samadhi. E como nos
Upanixades, busca o despertar ou a compreensão de Atman como sendo nada
mais que o infinito brâmane, através da (mente) ética, (corpo) físico e
meditação (alma), o único alvo de suas práticas é a "verdade
suprema".
Uttara Mimamsa: As
Três Escolas de Vedanta
A Escola Uttara ("tarde") Mimamsa
é talvez a pedra angular dos movimentos do hinduísmo, e certamente foi
responsável por uma nova onda de investigação filosófica e meditativa,
renovação da fé, e reformas culturais. Primeiramente associada com os
Upanixades e seus comentários por Badarayana, e Vedanta Sutra,
o pensamento vedanta dividiu-se em três grupos, iniciados pelo pensamento e
escrita de Sankaracharya. A maioria da atual filosofia
hindu, está relacionada a mudanças que foram influenciadas pelo pensamento
vedanta, o qual é focalizado na meditação, moralidade e centralização no Eu uno
ao invés de rituais ou distinções sociais como as castas.
Puro monismo: Advaita
Vedanta
Advaita literalmente significa "não
dois"; isto é o que referimos como monoteístico,
ou sistema não-dualístico, que enfatiza a unidade. Seu consolidador foi
Shankaracharya (788-820). Shankara expôs suas
teorias baseadas amplamente nos ensinamentos dos Upanixades e de seu guru
Gaudapada. Através da análise da
consciência experimental, ele expôs a natureza relativa do mundo e estabeleceu
a realidade não dual ou Brahman no qual Atman (a alma individual) ou Brahman
(a realidade última) são absolutamente identificadas. Não é meramente uma
filosofia, mas um sistema consciente de éticas aplicadas e meditação,
direcionadas a obténção da paz e compreensão da verdade. Sankaracharya acusou
as castas
e rituais como tolos, e em sua própria maneira carismática, suplicou aos
verdadeiros devotos a meditarem no amor de Deus e alcançarem a verdade.
Monismo qualificado:
Vishistadvaita Vedanta
Ramanuja (1040 - 1137)
foi o principal proponente do conceito de Sriman Narayana como Brahman
o supremo. Ele ensinou que a realidade última possui três aspectos: Ishvara
(Vixnu),
cit ("alma")
e acit ("matéria"). Vixnu é a única realidade independente,
enquanto alma e material são dependentes de Deus para sua existência. Devido a
esta qualificação da realidade última, o sistema de Ramanuja é conhecido como
não dualístico.
Dualismo: Dvaita Vedanta
Madhva (1199 - 1278)
identificou deus com Vishnu, mas a sua visão da realidade era puramente
dualista, pois ele compreendeu uma diferenciação fundamental entre o Deus
supremo e a alma individual, e o sistema consequentemente foi denominado Dvaita
(dualístico) Vedanta.
Culturas Alternativas
de Adoração
As Escolas Bhakti
A Escola Devocional Bhakti tem seu nome
derivado do termo hindu que evoca a ideia de "amor prazeroso, abnegado e
estupefante de Deus como Pai, Mãe, Filho Amados", ou qualquer outra forma
de relacionamento que encontre apelo no coração do devoto. A filosofia de Bhakti
procura usufruto pleno da divindade universal através da forma pessoal, o que
explica a proliferação de tantas divindades na Índia, frequentemente refletindo
as inclinações particulares de pequenas áreas ou grupos de pessoas. Vista como
uma forma de Yoga ou união, ele preconiza a necessidade de se dissolver o ego em Deus, na medida em
que a consciência do corpo e a mente limitada, como individualidade, seriam
fatores contrários à realização espiritual. Essencialmente, é Deus que promove
toda mudança, que é a fonte de todos os trabalhos, que a idade através do amor
e da luz. 'Sins' e mal - fazendo da devoto são mencionado cair embora da sua
próprio acorde , o entusiasta enrugar limitedness já transcendido , através do
amor de Deus. Os movimentos Bhakti rejuvenesceram o Hinduísmo ao longo
da sua intensa expressão de fé e receptividade às necessidades emocionais e
filosóficas da Índia. Pode-se dizer corretamente que influenciaram a maior onda
de mudança em orações e rituais hindus desde tempos remotos.
A mais popular forma de expressão de amor a Deus na
tradição hindu é através do puja, ou ritual de devoção,
frequentemente utilizando o auxílio de murti
(estátua) juntamente com canções ou recitação de orações meditacionais em forma
de mantras. Canções devocionais denominadas bhajan (escritas primeiramente nos
séculos XIV-XVII), kirtan (elogio), e arti (uma forma filtrada do ritual de
fogo Védico) são algumas vezes cantados juntamente com a realização do puja.
Este sistema orgânico de devoção tenta auxiliar o indivíduo a conectar-se com
Deus através de meios simbólicos. Entretanto, é dito que bhakta, através
de uma crescente conexão com Deus, é eventualmente capaz de evitar todas as
formas externas e é inteiramente imerso na bênção do indiferenciado amor a
Verdade.
Tantrismo
A palavra tantra
significa "tratado" ou "série continua", e é aplicada a uma
variedade de trabalhos místicos, ocultos, médicos e científicos bem como
aqueles que agora nos consideramos como "tântricos". A maioria dos tantras
foram escritos no final da Idade Média
e surgiram da cosmologia hindu.
Temas e simbolismos
importantes no hinduismo
Ahimsa e as vacas
É vital uma nota sobre o elemento ahimsa no
hinduísmo para compreender a sociedade que se formou à volta de alguns dos seus
princípios. Enquanto o jainismo, à medida que era praticado, era certamente uma
grande influência sobre a sociedade indiana - que dizer da sua exortação do veganismo
e da não-violência como ahimsa - o termo primeiro apareceu nos
Upanixades. Assim, uma influência internamente enraizada e externamente
motivada levou ao desenvolvimento de uma grande quantidade de hindus que
acabaram por abraçar o vegetarianismo numa tentativa de respeitar
formas superiores de vida, restringindo a sua dieta a plantas e vegetais. Cerca
de 30% da população hindu actual, especialmente em comunidades ortodoxas no sul
da Índia, em alguns estados do norte como o Guzerate
e em vários enclaves brâmanes à volta do subcontinente, é vegetariana.
Portanto, enquanto o vegetarianismo não é um dogma, é recomendado como sendo um
estilo de vida sátvico (purificador).
Os hindus abstêm-se predominantemente de carne, e alguns até vão
tão longe quanto evitar produtos de pele. Isto acontece provavelmente porque o
largamente pastoral povo Védico e as subsequentes gerações de hindus ao longo
dos séculos dependiam tanto da vaca para todo o tipo de produtos lácteos, aragem dos campos e
combustível para fertilizante, que o seu estatuto de "cuidadora"
espontânea da humanidade cresceu ao ponto de ser identificada como uma figura
quase maternal. Assim, enquanto a maioria dos hindus não adora a vaca, e as
instruções escriturais contra o consumo de carne surgiram muito depois dos
Vedas terem sido escritos, esta ainda ocupa um lugar de honra na sociedade
hindu. Diz-se que Krishna
é tanto Govinda
(pastor de vacas) como Gopala (protector de vacas), e que o
assistente de Xiva é Nandi,
o touro. Com a força no vegetarianismo (que é habitualmente seguido em dias
religiosos ou ocasiões especiais até por hindus comedores de carne) e a
natureza sagrada da vaca, não admira que a maior parte das cidades santas e
áreas na Índia tenham uma proibição sobre a venda de produtos de carne e haja um
movimento entre os Hindus para banir a matança de vacas não só em regiões
específicas como em toda a Índia.
Formas de Adoração: murtis e mantras
Contrário a crença popular, o hinduísmo prático não
é politeístico
nem estritamente monoteístico. A variedade de deuses e avatares que são
adorados pelos hindus são compreendidos como diferentes formas da Verdade
Única, algumas vezes vistos como mais do que um mero Deus e um último terreno
Divino (Brahman), relacionado mas não limitado ao monismo,
ou um princípio monoteístico como Vixnu ou Xiva.
Acreditando na origem única como sem forma (nirguna brahman, sem
atributos) ou como um Deus pessoal (saguna Brahman, com
atributos), os Hindus compreendem que a verdade única pode ser vista de forma
variada por pessoas diferentes. O Hinduísmo encoraja seus devotos a descreverem
e desenvolverem um relacionamento pessoal com sua deidade pessoal escolhida (ishta devata) na forma
de Deus ou Deusa.
Enquanto alguns censos sustentam que os adoradores
de uma forma ou outra de Vishnu (conhecido como Vaishnavs) são 80% dos Hindus e aqueles de
Shiva (chamados Shaivaites) e Shakti
compõem o restante dos 20%, tais estatísticas provavelmente são enganadoras. A
maioria dos Hindus adora muitos deuses como expressões variadas do mesmo prisma
da Verdade. Entre os mais populares estão Vishnu (como Krishna ou Rama), Shiva, Devi (a Mãe de muitas
deidades femininas, como Lakshmi, Sarasvati, Kali e Durga), Ganesha, Skanda e Hanuman.
A adoração das deidades é geralmente expressa
através de fotografias ou imagens (murti) que são ditas
não serem o próprio Deus mas condutos para a consciência dos devotos, marcas
para a alma humana que significam a inefável e ilimitada natureza do amor e
grandiosidade de Deus. Eles são símbolos do princípio maior, representado mas
nunca presumido ser o conceito da própria entidade. Consequentemente, a maneira
hindu de adoração de imagens as toma apenas como símbolos da divindade,
opostos à idolatria,
geralmente imposta (erroneamente) aos hindus.
Mantra
Recitação e mantras
originaram-se no hinduismo e são técnicas fundamentais praticadas até os dias
de hoje. Muito da chamada Mantra Yoga, é realizada através de japa ("repetições").
Dizem que os mantras, através de seus significados, sons e recitação
melódica, auxiliam o sadhaka (aquele que prática) na obtenção
de concentração durante a meditação. Eles também são utilizados como uma
expressão de amor a deidade, uma outra faceta da Bhakti Yoga necessária
para a compreensão de murti.
Frequentemente eles oferecem coragem em momentos difíceis e são utilizados para
a obtenção de auxílio ou para 'invocar' a força espiritual interior. As ultimas
palavras de Mahatma Gandhi enquanto morria foi um mantra ao
Senhor Rama: "Hey Ram!"
O mais representativo de todos os mantras
Hindu é o famoso Gayatri Mantra:
ॐ
भूर्भुवस्व: | तत्
सवितूर्वरेण्यम् | भर्गो
देवस्य धीमहि
| धियो यो न:
प्रचोदयात्
Aum
bhūrbhuvasvah | tat savitūrvareṇyam | bhargo
devasya dhīmahi | dhiyo yo naha pracodayāt
Significa, literalmente: "Om! Terra, Universo,
Galáxias (invocação aos três mundos). Que nós alcancemos a excelente glória de Savitr,
o Deus. Que ele estimule os nossos pensamentos/meditações."
O mantra Gayatri é considerado o mais
universal de todos os mantras hindus, e invoca o Brâman
universal como um princípio de conhecimento e iluminação do sol primordial, mas
somente em seu aspecto feminino. Muitos hindus até os dias de hoje, seguindo
uma tradição que permanece viva por pelo menos 5.000 anos, realizam abluções
matinais às margens do rio sagrado (especialmente do rio Ganges.
Conhecido como um mantra sagrado, é reverenciado como sendo a forma mais
condensada do "Conhecimento Divino" (Veda). E governado pelo
princípio, Ma ("Mãe") Gayatri, também conhecido como Veda Mata ("mãe dos Vedas")
e intimamente associado à deusa do aprendizado e iluminação, Sarasvati.
O maior objetivo da religião védica é alcançar
moksha, ou liberação, através da constante dedicação a Satya (Verdade) e
uma eventual realização de Atman (Alma Universal). Não importa se
atingido através de meditação ou puro amor, este objetivo universal é alcançado
por todos. Deve ser observado que o Hinduísmo é uma fé prática, e é incorporado
em cada aspecto da vida. Acredita igualmente no temporal e no infinito, e
somente encoraja perspectivas destes principios. Os grandes rishis (sábios, considerados espécies
de santos hindus) e também denominados como samsárico (aquele que vive
no samsara, i.e. plano temporal ou terrestre) aquele que segue um meio
de vida honesto e amável (dhármico) é um jivanmukta
(alma vivente liberta). As verdades fundamentais do hinduísmo são melhores
compreendidas na frase dos Upanixades, Tat Twam Asi (Assim És Tu), e na
última aspiração como segue:
Aum
Asato ma sad gamaya, tamaso ma jyotir gamaya, mrityor ma aamritaam gamaya
"Aum
Conduza-me da ignorância para a verdade, das trevas para a luz, da morte para a
imortalidade."