O Tempo da Quaresma
é o período do ano litúrgico que antecede a Páscoa cristã, sendo celebrado por algumas igrejas cristãs, dentre as quais a Católica , a Ortodoxa , a Anglicana , a Luterana.
A expressão Quaresma
é originária do latim, quadragesima dies (quadragésimo dia). O adjetivo
referente a este período é dito quaresmal ou, mais raro, quadragesimal .
Em diversas
denominações cristãs, o Ciclo Pascal compreende três tempos: preparação,
celebração e prolongamento. A Quaresma insere-se no período de preparação.
Os serviços
religiosos desse tempo intentam a preparação da comunidade de fiéis para a
celebração da festa pascal, que comemora a ressurreição e a vitória de Cristo
depois dos seus sofrimentos e morte, conforme narrados nos Evangelhos.
Esta preparação é
feita através de jejum, abstinência de carne, mortificações, caridade e orações.
A separação do Carnaval e o período da Quaresma inspira um vasto grupo de tradições folclóricas, algumas oriundas de ritos anteriores ao
Cristianismo referentes ao pouso do inverno e do posterior renascimento primaveril da terra, no hemisfério norte.
Tempo
da Septuagésima
Em alguns ritos e denominações cristãs, o
período de preparação para a Páscoa inicia 17 dias antes da Quarta-feira de Cinzas,
chamado Tempo da Septuagésima.
Neste tempo de preparação remota, a liturgia apresenta a criação, elevação e
queda do homem. Este tempo inicia com o Domingo da Septuagésima, abrange os
domingos da Sexagésima e Quinquagésima, até a Quarta-feira de Cinzas, início da
Quaresma.
Quarenta
dias
Quadragesima, expressão latina
típica na liturgia, denomina o período de quarenta dias de preparação para a Páscoa e que alude ao
simbolismo do número quarenta com que o Antigo e o Novo Testamento representam os momentos salientes da
experiência da fé da comunidade judaica e cristã.
Em seu simbolismo, este número não significa um tempo cronológico exato, ritmado pela sequência de dias; mas uma
representação sociocultural de um período de duração significativa para uma
comunidade de crentes.
Na Bíblia, o número quarenta aparece em diversos momentos
significativos, a saber:
Antigo
Testamento
Na história de Noé (Gênesis 7:4-12
e Gênesis 8:6),
durante o dilúvio, é o tempo transcorrido na arca, junto com a sua
família e com os animais. Após o dilúvio, passarão mais quarenta dias antes de
tocar a terra firme.
Na narrativa
referente a Moisés, é o tempo de sua permanência no monte Sinai – quarenta dias e quarenta noites – para receber a
Lei (Êxodo 24:18).
Quarenta anos dura a viagem do povo judeu do Egito
para a Terra prometida (Deuteronômio 8:2-4).
No Livro dos Juízes,
refere-se a quarenta anos de paz de que Israel goza sob os Juízes (Juízes 3:11).
O profeta Elias leva quarenta dias para chegar ao monte
Horeb, onde se encontra com Deus (I Reis 19:8).
Os cidadãos de Nínive fazem penitência durante quarenta dias para obter o
perdão de Deus (Jonas 3:4-5).
Quarenta anos
duraram os reinados de Saul (Atos 13:21),
de Davi (II Samuel 5:4-5)
e de Salomão (I Reis 11:42),
os três primeiros reis de Israel.
O simbolismo do
número quarenta também está presente em Salmos 95:10,
referindo-se aos número de anos que o povo judeu caminhou pelo deserto.
Novo
Testamento
Jesus foi levado
por Maria e José ao Templo, quarenta dias após
o seu nascimento, para ser apresentado ao Senhor (Lucas 2:22).
Este período de quarenta dias era determinado pela lei judaica, quando uma
mulher desse à luz a um filho homem. Foi a soma dos dias para a circuncisão de Jesus, após
o parto, mais o período para a purificação de Maria. Só então ela poderia
entrar no santuário (Levítico 12:2-4).
Jesus,
antes de iniciar a sua vida pública, retira-se no deserto por quarenta dias e
quarenta noites, sem comer nem beber (Mateus 4:2;
Marcos 1:13
e Lucas 4:1-2).
Durante quarenta
dias Jesus ressuscitado instrui
os seus discípulos, antes de subir ao Céu e enviar o Espírito Santo (Atos 1:1-3).
Igreja
Católica
Na Igreja
Católica, o Tempo da Quaresma decorre desde a Quarta-feira de Cinzas até
a missa vespertina da Quinta-Feira Santa
inclusive, com que se inaugura o Tríduo Pascal. A semana que precede a Páscoa é chamada pela
tradição de Semana Santa .
Antes da reforma
litúrgica pós-conciliar, havia ainda
os períodos denominados quinquagésima, sexagésima e septuagésima .
Tempo
de penitência, oração e conversão
O Papa Bento XVI, na Audiência Geral de Catequese, no dia 22 de
Fevereiro de 2012, sobre o significado litúrgico dos "quarenta dias da
Quaresma", assim definiu:
“Trata-se de um
número que exprime o tempo da expectativa, da purificação, do regresso ao
Senhor e da consciência de que Deus é fiel às suas promessas.”
No que se refere
aos dias e tempos de penitência, o Código de Direito Canônico
da Igreja Católica prescreve todas as sextas-feiras do ano e o tempo da
Quaresma (Cân. 1250) .
Na disciplina
católica, todos os fiéis, cada qual a seu modo, têm obrigação de fazer penitência. Prescreve-se, neste contexto disciplinar, que nos
dias de penitência os fiéis de modo especial se dediquem à oração, exercitem obras de piedade e de caridade, se abneguem a si mesmos, cumprindo mais fielmente as
próprias obrigações e sobretudo observando o jejum
e a abstinência, segundo as normas do Direito Canônico (Cân. 1249).
Os fiéis são
exortados a guardarem a abstinência de carne ou de outro alimento segundo as
determinações da conferência episcopal,
todas as sextas-feiras do ano, a não ser que coincidam com algum dia enumerado
entre as solenidades. Os fiéis devem seguir o preceito da abstinência e do jejum
na Quarta-feira de Cinzas e
na Sexta-feira da Paixão e Morte de
Nosso Senhor Jesus Cristo (Cân. 1251) .
A obrigação do
cumprimento da lei da abstinência recai sobre os maiores de treze anos. Estão
sujeitos à lei do jejum todos os maiores de idade até terem começado os
sessenta anos. A norma canônica insiste que todas as pessoas, mesmo as
dispensadas da lei da abstinência e do jejum, sejam formadas no sentido genuíno
da penitência (Cân. 1252) .
Após a reforma conciliar a
adaptação das práticas de penitência nos diversos lugares do mundo, ficou sob a
responsabilidade das conferências episcopais.
Estas “podem determinar mais pormenorizadamente a observância do jejum e da
abstinência, e bem assim substituir outras formas de penitência, sobretudo
obras de caridade e exercícios de piedade, no todo ou em parte, pela
abstinência ou jejum” (Cân. 1253) .
Liturgia
quaresmal
Quarta-feira de Cinzas
A liturgia da Quarta-feira de Cinzas (Feria
quarta cinerum, em latim) abre o tempo da Quaresma, não se dizem o
Glória, nem o Creio,
na missa . O nome vem das
cinzas que nesse dia são bentas e impostas na cabeça dos fiéis, como símbolo da
vida efêmera e passageira e convite à penitência.
O rito da bênção
das cinzas realiza-se na quarta-feira que precede o primeiro domingo da Quaresma, antes da missa principal, para logo em
seguida, e durante todo o dia, ser imposta aos fiéis que o pedirem. A cinza é
proveniente dos ramos bentos do Domingo de Ramos do ano anterior. A imposição se faz no alto
da cabeça, em forma de cruz acompanhada de uma das seguintes das admoestações:
– ...arrependei-vos
e crede no Evangelho. (Marcos 1:15)
– ...porquanto
tu és pó, e em pó te hás de tornar. (Gênesis 3:19)
Não é necessário
que o rito da bênção e imposição das cinzas seja unido à missa; pode ser
celebrado sem missa.
Domingos e solenidades
A Tempo da
Quaresma tem seis domingos, que são chamados de I, II, III, IV, V e Domingo de Ramos da Paixão
(VI). Esses domingos têm sempre precedência, mesmo sobre as festas do Senhor e
sobre qualquer solenidade.
As solenidades de São José (19 de março) e da Anunciação do Senhor (25 de março), assim como outras possíveis solenidades dos
calendários particulares, são antecipadas para o sábado ou são adiadas para a
segunda-feira, caso coincidam com esses domingos .
Nos domingos da
Quaresma não se canta ou recita o hino do Glória, nem se canta ou recita o Aleluia; faz-se, porém, sempre se faz a profissão de fé
.
O quarto domingo
da Quaresma é denominado Domingo Laetare, assim
chamado pela primeira palavra do introito em latim: Laetare Jerusalem
(Alegra-te, Jerusalém!). Os paramentos da missa e do ofício solene podem ser rosáceos .
O sexto domingo da
Quaresma é denominado Domingo de Ramos (Dominica
palmarum, em latim), domingo que precede a festa da Páscoa, assim chamado
porque antes da missa principal se realiza a bênção dos ramos, seguida de procissão.